Resumo do capítulo "Tripalium versus poiesis", do livro "Qual é tua obra?", de Mario Sergio Cortella.
Segundo Cortella (2010), a palavra "trabalho" tem origem na palavra "tripalium", um instrumento de tortura medieval. Além disso, a sociedade ocidental herdou muitos aspectos da cultura greco-romana, sociedade escravota. Por isso, hoje em dia o trabalho ainda é visto como algo inferior em nossa sociedade.
No período feudal a ideia de escravo é substituída pelo conceito de servo, mas ainda é presente o aspecto de dependência. A economia baseada no escravagismo é transferida para o países colonizados pelos Europeus, como o Brasil e Estados Unidos, por exemplo.
O judaísmo por sua vez traz a concepção religiosa do trabalho, que acaba reforçando a ideia de "castigo", uma forma de "pagar por seus pecados".
Na filosofia, o trabalho manual também é mal visto. Platão desprezava o trabalho manual e acreditava que pintores, escultores, escravos e qualquer um que realizasse trabalhos manuais eram inferiores. O homem, sendo um animal racional, conforme afirmou Aristóteles, deveria focar no trabalho intelectual em detrimento do trabalho manual. Reforça-se o conceito de inferioridade atribuído ao trabalho manual.
O mundo medieval teocentrista reforça os papéis de senhor e servo. O mundo capitalista, criticado por Marx, se divide em patrão e empregado. No Brasil, até hoje não superamos a cultura escravagista. Cortella (2010) cita o exemplo quando nossos pais querem nos motivar nos estudos: "se você não estudar, você não será ninguém na vida, será um faxineiro", reforçando a ideia de que o trabalho manual é inferior e humilhante.
A religião protestante luterana e calvinista, por sua vez, trata o trabalho como uma continuidade da obra divina. O trabalho, como forma de acumulação de riqueza, é bem visto.
O trabalho castigo ainda persiste até os dias de hoje. O autor crítica o pensamento comum que muitos citam: "quando eu parar de trabalhar...". Não se para de trabalhar, nunca. "Eu me vejo naquilo que faço, não naquilo que penso" (CORTELLA, 2010, p. 20).
Cortella (2010) traz então um novo conceito de trabalho: labor, do latim, assemelhando-se à obra, ou poiesis, conceito grego para tratar de sua obra, aquilo que você faz, que você produz. O seu trabalho é a sua criação, onde você se vê, se constrói e cria seu próprio mundo.
Se você não consegue se ver em seu próprio trabalho, você cairá naquilo que Marx chamava de alienação, ou seja, você fica alheio ao que está produzindo, aquilo não lhe pertence.
Trabalho exige reconhecimento, se você não se reconhece naquilo que faz, está sujeito às alienação, ao estresse.
Qualidade de vida em uma empresa ocorre quando o trabalho não é alienado, o resultado aparece. Trabalho sem resultado, sem reconhecimento, não é trabalho, é alienação.
Veja o bombeiro, por exemplo, que realiza um trabalho que poucos gostariam de realizar, a um salário baixo, mas que mesmo assim volta para casa todos os dias realizado: porque ele se vê naquilo que faz, está feliz com o resultado de seu trabalho, sua obra, sua poiesis.
Referências:
Fotografia | Blog do orangotando. Disponível em: http://www.orangotangoloja.com.br/blog/?tag=fotografia. Acesso em: 17/08/2015.
CORTELLA, M. S. Qual é tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. p. 17-22. 11º ed. Petrópolis - RJ. Vozes. 2010.